As Viagens de Gulliver - Cap. 6: Capítulo IV Pág. 291 / 339

CAPÍTULO VII

Lídimo amor do autor pela pátria. Observações do dono sobre a constituição e administração inglesas, conforme descritos pelo autor. Paralelismos e analogias. Observações do amo sobre a natureza humana.

Talvez o leitor pergunte a si próprio por que me permitira retratar com tanta crueza a minha própria espécie perante uma raça de seres tão propensos a menosprezar os homens pela sua perfeita parecença com os yahoos. Mas devo confessar com toda a franqueza que a contemplação das numerosas virtudes destes excelsos quadrúpedes, em contraste com as corrupções humanas, tinham-me aberto tanto os olhos e desenvolvido de tal modo o entendimento, que' começava a considerar as acções e paixões do homem sob um prisma totalmente diferente e a julgar que a honra da minha raça não merecia ser defendida. Por outro lado, teria resultado impossível, com um amo tão inteligente, que todos os dias me indicava mil faltas em que incorria e outras de que até agora estava totalmente inconsciente; se fosse entre nós, estas nem seriam consideradas simples imperfeições. Graças ao seu exemplo, ganhara um ódio figadal a qualquer falsidade ou dissimulação, e a sinceridade apresentava-se de forma tão atraente que decidi analisar tudo por esse crivo.

Peço ao leitor que perdoe a minha candidez: confesso que havia uma razão muito mais poderosa para a liberdade com que contei todas estas coisas. Com um escasso ano de estadia neste país, ganhei tal respeito e veneração pelos seus habitantes que resolvi com firmeza nunca mais regressar ao seio da minha raça, mas passar o resto da minha vida entre aqueles admiráveis houyhnhnms no estudo e na prática de todas as virtudes, onde, além disso, não existiria o exemplo ou a incitação para o vício.





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