Mas verificava agora que se equivocara e que as disputas dos irracionais do seu país se deviam às mesmas causas que no nosso, de acordo com o que eu descrevera. «Porque disse se forneceis a cinco yahoos uma ração de comida para cinquenta, em vez de comerem tranquilamente disputarão entre si, porque cobiçam tudo só para cada um.» Motivo por que havia sempre um criado a vigiá-los quando comiam no exterior, enquanto que no curral eram mantidos amarrados, a certa distância uns dos outros. Quando uma vaca morria de velhice ou por acidente, antes que um yahoo pudesse levá-la para o seu próprio bando já os das vizinhanças avançavam em grupos cerrados para se apoderar dela, o que originava batalhas idênticas às que eu próprio descrevera; os bandos rivais recebiam terríveis golpes desferidos pelas garras, embora as feridas raras vezes fossem mortais, pois os combatentes não dispunham dos mortíferos instrumentos que nós tínhamos inventado. Noutras ocasiões tinham-se travado batalhas parecidas entre yahoos de diversas vizinhanças sem razão aparente; os de uma região espreitavam uma oportunidade para surpreender os de outra região, apanhando-os desprevenidos. Mas se o seu plano de ataque fracassa, voltam para casa e, à falta de inimigos, travam entre si o que eu chamava guerra civil.
Em várias zonas do país há certas pedras brilhantes e multicores pelas quais os yahoos sentem uma brutal atracção. E se, como sucede às vezes, algumas destas pedras estão incrustadas na terra, cavarão durante dias inteiros com as garras para extraí-las, levá-las e amontoá-las às escondidas nos seus covis; apesar disso, continuam a vigiá-las com grande cuidado com medo de que os seus companheiros encontrem o seu tesouro. O meu amo acrescentou que nunca conseguira perceber o motivo deste desejo antinatural, nem que interesse podiam ter tais pedras para os yahoos.
