Outro motivo, porém, me fazia sentir pouco inclinado a favorecer, com as minhas descobertas, os domínios da coroa. A falar verdade, tinha alguns escrúpulos quanto ao modo como os príncipes praticam a justiça distributiva nestas circunstâncias. Por exemplo, um barco pirata é arrastado por uma tempestade para um rumo desconhecido. Por fim um grumete, do alto do mastro, descobre terra ao longe. Desembarcam para roubar e espoliar; encontram gente inofensiva, são acolhidos com amabilidade, dão ao país um nome novo, tomam posse formal, em nome do seu monarca, daquelas terras e erguem, como padrão, um pedaço de madeira apodrecida ou de pedra; assassinam duas ou três dezenas de nativos, levam à força para bordo uns quantos como prova, regressam à pátria e obtêm o perdão. Começa então uma nova anexação, legítima por direito divino. Logo que se possa, envia-se uma Armada; expulsam-se ou aniquilam-se os nativos; torturam-se os chefes deles para que indiquem onde estão os tesouros; dá-se carta-branca para todos os actos de crueldade e de cobiça, enquanto a terra fica empapada de sangue dos habitantes; e a esta execrável horda de carniceiros consagrados a tão piedosa expedição dá-se o nome de colónia, estabelecida para converter e civilizar um povo bárbaro e idólatra.
Devo, porém, confessar, que tal descrição jamais se aplica à nação britânica que pode servir de exemplo ao mundo inteiro pela sabedoria, cuidado e justiça demonstrados na fundação de colónias.