Admito que me foi sugerido que, como súbdito inglês, devia apresentar à chegada a Inglaterra um relatório a um secretário de Estado, uma vez que todas as terras descobertas por um súbdito da coroa a ela pertencem. Mas albergo dúvidas de que conquistássemos essas regiões com a mesma facilidade com que Hernán Cortés conquistou os nus ameríndios. Penso que os liliputianos valem tão-só o custo da Armada e do Exército que os iria submeter; quanto aos brobdingnagianos, pergunto a mim próprio se seria prudente ou seguro tentar dominá-los. Ou se um Exército inglês se sentiria muito confortável com a Ilha Voadora a sobrevoá-lo. Aparentemente os houyhnhnms não se encontram tão bem apetrechados para a guerra, técnica a que são de todo alheios, apresentando-se particularmente vulneráveis aos projécteis. No entanto, se fosse ministro no governo, nunca aconselharia a invasão. A sua inteligência, unanimidade, total ignorância do medo e patriotismo, supririam amplamente as carências na arte bélica. Imaginai uma carga de vinte ou trinta mil houyhnhnms contra o grosso de um Exército europeu, desbaratando as fileiras, voltando os carros, lançando terríveis coices com os cascos traseiros, ferindo e desfigurando o rosto dos combatentes. Seriam indubitavelmente merecedores de que deles se dissesse o que se disse de Augusto: Recalcitrat undique tutus. Mas em lugar de fazerem projectos para subjugar aquele magnânimo país, preferiria que tivessem meios e disposição para receber um número adequado de cidadãos para civilizar a Europa, ensinando-nos as noções básicas de honra, justiça, verdade, temperança, espírito cívico, carácter, castidade, amizade, benevolência e fidelidade.