«Viva o muito poderoso imperador de Lilliput!» Este excelso príncipe acolheu a minha chegada com grandes elogios e, naquele mesmo lugar, concedeu-me o título de
Nardac, a condecoração máxima.
Sua Majestade queria que realizasse outra sortida para capturar e levar para o porto o resto da frota inimiga. A ambição dos príncipes é desmedida e, neste caso, a sua obsessão era converter o império de Blefuscu numa província sua, governada por um vice-rei, destruir os exilados favoráveis do ovo partido pela parte mais larga e forçar os blefuscuitas a partir o ovo pela parte mais estreita, com o que passaria a ser o único monarca do universo, mas procurei dissuadi-lo do seu propósito com numerosos argumentos, tanto de índole política como ética. E afirmei vigorosamente que nunca seria o instrumento para escravizar um povo livre e valente. Os membros mais sensatos do Conselho partilharam da minha opinião quando se debateu este assunto.
A sinceridade e intrepidez da minha declaração, por ser tão oposta ao projecto e política de Sua Majestade Imperial, levaram a que ele nunca me perdoasse. Perante o Conselho foi-me dito que alguns membros sensatos me apoiavam pelo menos com o seu silêncio mencionou o tema de forma muito engenhosa. Mas outros, que pareciam ser meus inimigos secretos, não puderam reprimir algumas indirectas contra mim. A partir daí, forjou-se uma intriga entre Sua Majestade e uma parte dos ministros que me era pouco favorável e que deflagrou em menos de dois meses o que, provavelmente, me teria aniquilado por completo. Que pouco pesam os grandes serviços prestados aos príncipes quando no outro prato da balança se contrapõe a recusa em satisfazer as suas paixões!