As Viagens de Gulliver - Cap. 4: Capítulo II Pág. 87 / 339

Durante a tormenta, a que se seguiu um forte vento de oeste-sudoeste, desviámo-nos, segundo os meus cálculos, umas quinhentas léguas para leste, de tal forma que nem o marinheiro mais velho dentro do navio era capaz de dizer em que parte do mundo nos encontrávamos. As provisões estavam em boas condições, o barco permanecia firme e seguro; toda a tripulação gozava de boa saúde mas, no que se refere à água, a situação era pouco menos que desesperada. Considerámos que o melhor era manter o rumo em vez de nos desviarmos mais para norte, o que nos poderia levar para as regiões ocidentais da grande Tartária e para o mar gelado.

A 16 de Junho de 1703, um grumete que estava no mastro maior avistou terra. A 17 aparecia aos nossos olhos uma grande ilha ou um continente (pois não sabíamos o que era), destacando-se para sul um pequeno istmo que penetrava no mar e uma enseada que não era bastante profunda para permitir a aproximação de um navio que ultrapassava as cem toneladas. Fundeámos a menos de uma légua daquela e o comandante enviou uma dezena de homens na chalupa, bem armados e com recipientes para água, caso encontrassem alguma. Pedi-lhe autorização para partir com eles, pois assim poderia talvez conhecer a região e fazer algumas descobertas. Ao desembarcarmos, não vimos nenhum rio, nem nascente, nem sequer vestígio algum de habitantes. Desta forma, os nossos homens percorreram a costa em busca de água potável, enquanto eu, sozinho, percorria cerca de uma milha para o outro lado, verificando tratar-se de uma região absolutamente estéril e rochosa. O desânimo começava a apoderar-se de mim e, não vendo nada que pudesse saciar a curiosidade, desci lentamente de regresso à enseada; quando aí cheguei vi que os homens já tinham entrado na embarcação e remavam desesperadamente para o barco.





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