Mas de que «autêntico» se tratava? Seria uma situação difícil para mim ter que o explicar. O mais natural é que se tivesse sido muito apertado nesse sentido, rompesse simplesmente em lágrimas. Era suficientemente jovem para que isso pudesse acontecer-me.
No dia seguinte, o capitão e eu resolvemos os nossos negócios na capitania do porto. A luz do dia brilhava calmamente, coada pelas persianas da grande sala rasgada, com um pé direito muito alto. Todos os que se encontravam lá dentro vestiam de branco, tanto os funcionários como o público. O único brilho escuro ali presente era o das pesadas secretárias de madeira polida, de um lado e de outro da larga coxia central, em cima das quais havia algumas folhas de papel azul. Alguns punkahs enormes faziam-nos chegar do tecto um sopro leve de ar, atravessando o espaço imaculado da capitania, até às nossas cabeças molhadas de suor.
O funcionário por trás da secretária a que nos dirigimos mostrou-nos um sorriso amável, tendo-o conservado até ao momento em que, respondendo à sua pergunta, que se apresentara de resto como uma afirmação, que não admitia réplica: «Vamos renovar a matrícula?», o capitão disse: «Não. Desembarque definitivo». Então o sorriso dele desfez-se em brusca solenidade. Não voltou a olhar-me até ao momento de me entregar os papéis com uma expressão de pesar, como se se tratasse de um passaporte para o outro mundo.
Enquanto guardava os documentos, ouvi o capitão responder a uma pergunta ciciada pelo funcionário, num tom bem-disposto: «Não. Separa-se de nós para ir para terra». «Oh!», exclamou o outro, sacudindo funebremente a cabeça, para cima e para baixo, ao considerar a minha situação lamentável.
Eu não tinha quaisquer relações com aquele homem fora das instalações da capitania, mas vi -o curvar-se de todo para diante, por cima da' mesa, e apertar-me a mão cheio de dó como se o fizesse a qualquer pobre diabo a caminho da forca, enquanto receio bem, pelo meu lado, ter representado de um modo infeliz o papel de um criminoso obstinadamente impenitente.
