.. - uma só e única coisa, tudo isto: conseguir guiar para sul o navio! Conseguir levá-lo para sul! O processo é curiosamente automático; o sol levanta-se para descer; a noite roda por cima das nossas cabeças como se por baixo do horizonte fizesse trabalhar uma manivela. É a coisa mais insignificante e mais vazia... e eu lá me vou movendo, atravessando todas as fases deste processo, passeando e voltando a passear, para trás e para a frente, pelo tombadilho. Quantas milhas terei eu já percorrido no tombadilho deste navio? Peregrinação tenaz, feita de simples impaciência! alternada por excursões ao convés para me ir dando conta do estado de Burns. Não sei se me iludo, mas ele parece-me ir-se tornando mais sólido de dia para dia. Não fala grande coisa, porque realmente a situação não s: presta a comentários para passar o tempo. E o que observo ate entre os homens da tripulação quando os vejo a andarem de um lado para o outro, ou sentados no convés. Não conversam uns com os outros. Isto faz-me pensar que se existe um ouvido invisível a escutar os segredos da terra, este navio deve parecer-lhe o lugar mais silencioso de todo o mundo... Não, Burns não tem grande coisa a dizer-me. Senta-se no beliche, já sem barba, com os bigodes a chamejarem, um ar de determinação na fisionomia calcificada e silenciosa. Ransome diz-me que ele come até à última migalha a comida que lhe leva, mas que parece dormir muito pouco. Até de noite, quando desço a encher o meu cachimbo, tenho reparado russo, apesar da determinação com que ele mantém o seu aspecto, enquanto passa pelas brasas, estendido e de costas 'voltadas para mim. Pelo olhar oblíquo que me deita quando está acordado, dá-me a impressão de se aborrecer por ter sido interrompido no decurso de qualquer processo intelectual trabalhoso; e quando assomo ao convés, a disposição ordenada das estrelas enche-me de novo os olhos, no céu limpo de nuvens, de um infinito cansaço.
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Páginas: 155
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