Nunca um criminoso confesso se sentiu tão esmagado pela consciência da própria culpa. Talvez fosse por esse motivo que o meu rosto tomara uma expressão dura e a minha voz assumira uma tonalidade lacónica e isenta de toda a emoção, enquanto lhes comunicava que nada mais me era possível fazer, em matéria de assistência medicamentos a, pelos que estavam doentes. Quanto aos outros cuidados a prestar-lhes, sabia que esses não estavam a faltar-lhes.
Teria dado toda a razão àqueles homens, se eles me tivessem feito ali em postas. O silêncio que se seguiu às minhas palavras era quase mais difícil de sofrer do que os gritos da cólera mais extrema. Senti-me esmagado pela infinita grandeza da reprovação deles. Mas o certo é que me enganava. Numa voz que, com pesado esforço, consegui que se mantivesse firme, prossegui: «Imagino que perceberam o que vos disse e que sabem o que isso significa».
Uma ou duas vozes se ouviram, dizendo: «Sim, senhor... Sabemos».
Tinham-se conservado em silêncio apenas porque lhes parecia que não era para dizerem nada que ali tinham sido chamados; e quando eu lhes comuniquei que tencionava rumar a Singapura e que o melhor que podia acontecer ao navio dependia ainda do esforço que todos nós, doentes ou não, conseguíssemos fazer para arrancar o barco das condições em que ele se encontrava, recebi como resposta um débil sussurrar de concordância e a exclamação isolada de uma voz mais alta do que as outras: «Mas com certeza que havemos de descobrir maneira de sair deste buraco do inferno!».
Aqui fica um extracto de algumas notas que escrevi ao tempo:
Por fim, perdemos Kohring de vista. Desde há muitas dias que julgo não ter passado lá em baixo duas horas por Junto. Permaneço constantemente no tombadilho, como não podia deixar de ser, e as noites e os dias giram por cima de nós, seguindo-se uns aos outros, longos ou breves, quem poderia dizê-lo ao certo? Toda a noção do tempo se perde nesta monotonia de antecipações, esperanças, ansiedades.
