Mas desde cerca das cinco horas até depois das sete, adormecia a sono solto debaixo das estrelas que empalideciam.
Dizia ao homem do leme: «Quando houver alguma novidade, chame-me», e deixava-me cair na cadeira, fechava os olhos com a impressão de que o sono acabara para mim neste mundo. Depois não sabia mais nada, até que, entre as sete e as oito, sentia tocarem-me no ombro e levantava os olhos para o rosto de Ransome, que me sorria desalentado, pensativo e amigável, e cujos olhos cinzentos pareciam ao mesmo tempo alegremente enternecidos por me verem passar pelo sono. Uma por outra vez, o segundo piloto subia até cá acima e rendia-me à hora do café. Mas isso de pouco servia, realmente. De um modo geral, continuava a calma apodrecida do mar, ou então havia brisas tão frouxas, variáveis e esquivas, que de facto não valia de nada mexer num braço de verga para tentar aproveitá-las. Se o vento se mantivesse, eu podia confiar em que o homem ao leme soltaria o grito de aviso: «Salto de vento à proa, comandante!», o que como um som de trombeta, me fazia dar um salto de um pé de altura acima do chão do tombadilho. Essas palavras pareciam-me capazes de me fazerem saltar para fora de um sono eterno. Mas não se ouviam muitas vezes. A partir de então, nunca mais vi alvoradas de tanta calmaria. E quando sucedia estar presente o segundo piloto (que, em média, tinha um dia sem febre em cada três), eu encontrava-o sentado na escotilha, por assim dizer semi-desmaiado, com o olhar idiota fixo nalgum objecto vizinho - um cabo, um cunho, uma malagueta do leme, um arganéu.
Era um jovem bastante incómodo. Tinha uma maneira de sofrer ainda muito infantil. Parecia ter-se tornado completamente imbecil com a desgraça, e quando um novo acesso de febre o obrigava a recolher ao camarote em baixo, a primeira coisa que acontecia a seguir a isso, era não o encontrarmos lá.