A Linha de Sombra - Cap. 2: I Pág. 22 / 155

«Não sei. Mas não devemos censurá-lo muito. Ele está agora a sentir-se muito infeliz, pode ter a certeza, e amanhã ainda vai sentir-se pior,»

A julgar pelo ar do homem, isso parecia ser impossível.

Perguntei a mim próprio que género de vício o teria levado àquela situação miserável. A benevolência do capitão Giles ficava comprometida por uma estranha expressão de complacência que não me agradou. Soltando uma breve risada, eu disse-lhe:

«Bem, sempre há o senhor para tomar conta dele.» O capitão fez, porém, um gesto de negação e pegou num jornal. Fiz o mesmo. Os jornais eram velhos e desinteressantes, estando a maior parte das suas páginas cobertas de descrições estereotipadas dos festejos do primeiro jubileu da rainha Vitória. Assim teríamos provavelmente mergulhado sem delongas de maior numa sesta tropical se não fosse a voz de Hamilton, fazendo-se ouvir na sala de jantar. Estava a acabar o seu tiffin. As grandes portas de duplo batente encontravam-se sempre abertas, mas ele não podia supor que as nossas cadeiras ficassem tão perto da entrada. Ouvimo-lo responder, em voz alta e soberba, a qualquer observação que o despenseiro ousara arriscar:

«Não me quero meter por precipitação em coisa nenhuma. Acho que vão ficar satisfeitíssimos por arranjar um cavalheiro. Não é precisa pressa.»

Seguiu-se um murmúrio mas, apesar de tudo, bastante alto, por parte do despenseiro, e ouviu-se de novo Hamilton, continuando com uma entoação de desprezo ainda mais forte:

«O quê? Aquele animal que se dá ares por ter sido durante algum tempo imediato do capitão Kent? Isso não tem pés nem cabeça.»

O capitão e eu entreolhámo-nos. Uma vez que era Kent o nome do meu ex-capitão, pareceu-me um mero desperdício de fôlego o segredar do meu interlocutor: «Estão a falar de si».





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