Receio bem que o meu procedimento tenha sido realmente muito rude para com ele. Mas não estava no feitio daquele homem fazer frente a pessoa ou coisa alguma. Resultado dos estupefacientes ou da bebida solitária, muito provavelmente. Assim, quando me esqueci do respeito devido à tinha própria pessoa e comecei a praguejar, o despenseiro perdeu por completo a presença de espírito e desatou aos gritos.
Não se pode dizer que tenha feito la muito barulho. Foi uma confissão cínica e em tom de berro, mas com a voz enfraquecida... -lamentavelmente débil. Não era também uma história muito coerente, mas o bastante, em qualquer caso, para instantaneamente me deduzir ao silêncio. Cheio de justificada indignação, desviei o olhar do despenseiro, e vi então o capitão Giles que, da porta da varanda, observava calado a cena. Obra sua, se assim posso dize-lo. Tinha o cachimbo enegrecido e em brasa por baixo da cinza, seguro no punho paternal, e bem em evidência. Ostentava, igualmente, a pesada cadeia de ouro do relógio, que lhe cruzava, de lado a lado do peito, o colete branco. Desprendia em redor uma atmosfera de virtuosa sabedoria, tao densa que qualquer alma inocente voaria confiante na sua direcção. Foi o que eu fiz. .
«O senhor não pode imaginar uma coisa destas!», exclamei. «Há uma comunicação a dizer que é preciso um comandante para um navio. Anda para aí na praça um lugar de comando e este tipo mete a comunicação no bolso!»
O despenseiro soltava altos gritos de desespero: «O senhor está a dar cabo de mim!»
Deu uma palmada na testa tristonha, uma palmada também bastante ruidosa. Mas quando me virei para ele, olhando na sua direcção, já ali não o vi. Fugira à pressa para qualquer lugar fora da minha vista. Aquele desaparecimento intempestivo dava-me vontade de rir.