Segundo Burns, podia naquela fotografia ver-se a razão pela qual o navio descarregado ficara a grelhar ao sol, atracado durante três semanas, no interior de qualquer porto pestilento, sufocante e sem ar. Para ali ficara fundeado, cheio de homens arquejantes. O capitão, que de vez em quando fazia uma breve visita a bordo, segredava a Burns algumas peripécias absurdas acerca de umas cartas de que estava à espera.
A meio de certa noite, depois de ter estado uma semana sem dar sinais de vida, apareceu bruscamente a bordo, fazendo-se ao mar com o navio por entre os primeiros clarões da madrugada. À luz do sol revelou-se como um homem desvairado e doente. Só safar o navio de terra custou-lhe um trabalho de dois dias e, de qualquer maneira, chegaram a raspar um recife. Mas como o navio não meteu água, o capitão limitou-se a resmungar «não faz mal», informando depois Burns que resolvera ir com o barco para Hong-Kong para o fazer entrar numa doca seca.
Quando ouviu isto, Burns caiu num enorme desespero.
Realmente, rumar a Hong- Kong contra a fúria da monção, num navio sem lastro suficiente e com a aguada incompleta, era um projecto demente.
Mas o capitão rosnara, peremptório: «Vamos para a frente», e Burns, cheio de consternação e de cólera, foi em frente e teimou, deixando o velame rasgar-se, forçando os mastros, esgotando as energias da tripulação, em insistir quase louco, absolutamente convencido de que a manobra era impossível e acabaria fatalmente em desastre.