«Receio bem que, falando em termos médicos, os seus contratempos ainda não tenham chegado ao fim.» Em suma, ele esperava que eu me visse a braços com uma intensificação das doenças tropicais. Por sorte, havia uma boa provisão de quinino. Nessa, podia eu confiar, e se a aplicasse com tenacidade havia de melhorar com certeza as condições sanitárias do navio.
Amarrotei a carta com as mãos e pu-la na algibeira. Ransome levou duas boas doses de quinino para os dois homens à proa. Quanto a mim, não fui imediatamente para cima. Em vez disso, dirigi-me à porta do camarote de Burns, para o pôr também ao corrente da novidade.
É impossível descrever o efeito do que lhe disse. De início, pensei que perdera a fala. A cabeça mergulhava-lhe na almofada. Conseguiu, no entanto, mexer os lábios o bastante para me comunicar que se sentia com mais forças; declaração evidentemente falsa em vista do seu estado.
Nessa tarde, entrei de quarto como habitualmente.
Uma enorme calma sobreaquecida banhava o navio e parecia suspendê-lo, imóvel, na moldura flamejante de dois tons de azul. Leves e mornos sopros de aragem redemoinhavam indecisos nas velas do barco. Este, porém, ia avançando. Devia ter avançado. Porque, ao cair do sol, tínhamos alcançado através do cabo Liant, deixando-o à popa: uma sombra de aparência inquietante, a bater em retirada com as últimas cintilações do poente.
Sob a luz crua do candeeiro, à noite, Burns parecia ter subido um pouco à tona do beliche. Era como se o peso de uma mão poderosa se lhe tivesse retirado de cima. Respondeu às minhas poucas palavras com um discurso relativamente desenvolvido e coerente. Manifestou-se com energia. Quando se visse livre daquele calor asfixiante, disse, acreditava que em poucos dias estaria capaz de subir ao tombadilho e de me ajudar.