Tufão - Cap. 2: II Pág. 33 / 103

Há dias em terra ouvi-o dissertar sobre isso a uma data de capitães que entraram e vieram sentar-se numa mesa próxima da minha. Pareceu-me o maior dos disparates. Ele estava a contar-lhes como tinha fintado, creio que foi este o termo, uma terrível tempestade não a deixando nunca aproximar-se mais de cinquenta milhas do seu navio. Como ele sabia que havia uma terrível tempestade a cinquenta milhas de distância é coisa que ultrapassa o meu entendimento. Era como estar a ouvir um louco. Seria lícito pensar que o capitão Wilson já tinha idade suficiente para não dizer semelhantes tolices.

O capitão MacWhirr interrompeu-se por um momento, depois disse:

- É o seu quarto lá em baixo, senhor Jukes?

- Sim, sir - respondeu Jukes, despertando com um sobressalto.

- Deixe ordens para me chamarem à mínima alteração - disse o capitão. Estendeu o braço para arrumar o livro e estendeu as pernas por cima do beliche. - Faça o favor de fechar a porta para que ela não desate abater. Não tolero ouvir uma porta bater. Devo dizer que puseram neste navio uma data de fechaduras de fancaria.

O capitão MacWhirr fechou os olhos.

Fez isso para descansar. Estava fatigado e experimentava aquele estado de vazio mental que às vezes surge no fim de uma discussão exaustiva que libertou qualquer crença amadurecida durante anos de meditação. Ele estivera de facto a fazer a sua profissão de fé, embora não tivesse consciência disso; e o seu efeito foi deixar Junkes, do outro lado da porta, parado a coçar a cabeça durante um longo momento.

O capitão MacWhirr abriu os olhos.

Pensou que devia ter estado a dormir. Que diabo seria aquela barulheira toda? Vento? Porque não o tinham chamado? O candeeiro saracoteava-se na suspensão, o barómetro balouçava em círculos, a mesa alterava constantemente a sua inclinação; um par de botas de borracha com os canos caídos passou diante do beliche.





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