Essa coisa deixava-o tão nervoso como se fosse um animal feroz. Não conseguia vê-la, o interior da carvoeira revestido de pó de carvão era completa e impenetravelmente negro; mas ouvia-a deslizar e fazer barulho, e bater aqui e ali, sempre nas vizinhanças da sua cabeça. Parecia também produzir um ruído extraordinário - dar pesadas marteladas como se fosse do tamanho de uma viga da ponte. Eram suficientemente fortes para ele as ouvir enquanto era projectado de bombordo para estibordo, e vice-versa, e se agarrava desesperadamente às paredes lisas da carvoeira numa tentativa de se deter. Como a porta para a entrecoberta não se ajustava perfeitamente, ele avistou um fio de luz no fundo.
Sendo um marinheiro, e ainda um homem activo, só precisava de uma oportunidade para se pôr de pé; e quis a sorte que, quando gatinhava para se levantar, pusesse a mão sobre a alavanca de ferro, que agarrou firmemente com os dedos. A não ser assim teria tido medo de que aquilo lhe partisse as pernas ou, pelo menos, o fizesse cair de novo. Por fim ficou quieto. Sentia-se inseguro na escuridão, que parecia tornar os movimentos do navio estranhos, imprevisíveis e difíceis de neutralizar. Sentiu-se tão abalado por um momento que não ousou mover-se com medo de ser novamente «baldeado». Não estava interessado em ficar feito aos bocados naquela carvoeira.
Tinha batido duas vezes com a cabeça; sentia-se um pouco atordoado. Parecia-lhe ainda ouvir tão nitidamente as pancadas e os choques da alavanca de ferro voando-lhe em torno das orelhas que apertou o punho para se certificar de que a tinha seguramente presa na mão. Estava vagamente surpreendido com o facto de poder ouvir ali em baixo com toda a clareza os rugidos do vento. Os seus uivos e gritos pareciam adquirir, naquela carvoeira vazia, algo de humano, um pouco da cólera e da dor humanas - sendo não apenas vasta mas infinitamente lancinantes.
