- Olá! Que fazes tu por aqui? - perguntou o ex-segundo-piloto do Nan-Shan apressando-se a apertar a mão do outro.
- À espera de um lugar... se valer a pena... deram-me um palpite discreto - explicou com indiferença o homem do chapéu roto, na sua voz entrecortada e sibilante de asmático.
O segundo-piloto voltou a sacudir o punho contra o Nan-Shan.
- Há naquele navio um tipo que nem sequer presta para comandar uma chata - declarou ele, tremendo de fúria, enquanto o outro olhava em redor apaticamente. - Ah sim?
Mas surpreendeu sobre o cais uma pesada caixa de marinheiro, pintada de castanho debaixo de uma cobertura de lona franjada e apertada com uma corda de cânhamo nova. Olhou-a com um interesse nascente.
- Eu falaria e faria barulho se não fosse por causa daquela maldita bandeira siamesa. Ninguém a quem me dirigir... Se não fosse isso eu ia fazê-lo passar um mau bocado. O intrujão! Disse ao primeiro-maquinista (outro intrujão) que eu tinha perdido a calma. A maior cambada de ignorantes que jamais embarcou num navio. Não! Não podes imaginar...
- Recebeste o teu dinheiro todo? - inquiriu de súbito o seu andrajoso amigo.
- Sim. Fez-me as contas quando me despediu - rugiu o segundo-piloto. - «Tome o seu pequeno-almoço em terra», disse o gajo.
- Que malandro! - comentou vagamente o homem alto, e passou a língua pelos beiços. - E se fôssemos tomar uma bebida qualquer?
- Ele agrediu-me - silvou o segundo-piloto.
- Não! Agrediu-te? Palavra? - O homem de fato azul começou a dar mostras de grande indignação. - Não se pode falar à vontade aqui. Quero saber tudo o que aconteceu. Agrediu-te... hem? Vamos arranjar um tipo para te carregar a caixa. Conheço um lugar onde vendem cerveja engarrafada.