E disse-me:
Ah… sabe? Temos que esperar ainda pelo Ricardo de Loureiro. Também está convidado. E ficou de se encontrar aqui comigo. Olhe, aí vem ele…
E apresentou-nos:
- O escritor Lúcio Vaz.
- O poeta Ricardo de Loureiro.
E nós, um ao outro:
- Muito gosto em o conhecer pessoalmente.
* * *
Pelo caminho a conversa foi-se entabulando e, ao primeiro contato, logo experimentei uma viva simpatia por Ricardo de Loureiro. Adivinhava-se naquele rosto árabe de traços decisivos, bem vincados, uma natureza franca, aberta - luminosa por uns olhos geniais, intensamente negros.
Falei-lhe da sua obra, que admirava, e ele contou-me que lera o meu volume de novelas e que, sobretudo, lhe interessara o conto chamado João Tortura. Esta opinião não só me lisonjeou, como mais me fez simpatizar com o poeta, adivinhando nele uma natureza que compreenderia um pouco a minha alma. Efetivamente, essa novela era a que eu preferia, que de muito longe eu preferia, e entretanto a única que nenhum crítico destacara - que os meus amigos mesmo, sem mo dizerem, reputavam a mais inferior.
Brilhantíssima aliás a conversa do artista, além de insinuante, e pela vez primeira eu vi Gervásio calar-se - ouvir, ele que em todos os grupos era o dominador.
Por fim o nosso coupé estacou em face de um magnífico palácio da Avenida do Bosque, todo iluminado através de cortinas vermelhas, de seda, fantasticamente. Carruagens, muitas, à porta - contudo uma mescla de fiacres mais ou menos avariados, e algumas soberbas equipagens particulares.
Descemos.
À entrada, como no teatro, um lacaio recebeu os nossos cartões de convite, e outro imediatamente nos empurrou para um ascensor que, rápido, nos ascendeu ao primeiro andar. Então, deparou-se-nos um espetáculo assombroso:
Uma grande sala elíptica, cujo teto era uma elevadíssima cúpula rutilante, sustentada por colunas multicolores em mágicas volutas.