Daí a minha angústia - daí o meu ciúme.
Muita vez - julgo diligenciei fazer-lhe compreender isto mesmo, evidenciar-lhe a minha forma de sentir, a ver se provocava uma confissão inteira da sua parte, cessando assim o meu martírio. Ela, porém, ou nunca me percebeu, ou era resumido o seu afeto para tamanha prova de amor.
* * *
Se em face do meu ciúme todas as outras obsessões haviam soçobrado, restavam-me ainda - como já disse - as minhas repugnâncias incompreensíveis.
E procurando de novo aclará-las a mim próprio, assaltou-me de súbito este receio: seriam elas originadas pelo outro amante?
Eu me explico:
Tive sempre grandes antipatias físicas, meramente exteriores. Lembro-me por exemplo de que, em Paris, a um restaurante onde todas as noites jantava com Gervásio Vila-Nova ia algumas vezes uma rapariga italiana, deveras graciosa - modelo sem dúvida -, que muito me enternecia, que eu cheguei quase a desejar.
Mas em breve tudo isso passou.
É que a vira um domingo caminhando de mãos dadas com certo indivíduo que eu abominava com o maior dos tédios, e que já conhecia de o encontrar todas as tardes jogando as cartas num café burguês da Praça S. Michel. Era escarradamente o que as damas de quarenta anos e as criadas de servir chamam um lindo rapaz. Muito branco, rosadinho e loiro, bigodito bem frisado, o cabelo encaracolado; uns olhos pestanudos, uma boca pequenina - meiguinho, todo esculpido em manteiga; oleoso nos seus modos, nos seus gestos. Caixeiro de loja de modas - ah! não podia deixar de ser!…
Embirrava de tal forma com semelhante criatura açucarada, que nunca mais tinha voltado ao café provinciano da Praça S. Michel. Com efeito era-me impossível sofrer a sua presença. Dava-me sempre vontade de vomitar em