Invejava-o! Invejava-o por ela me haver pertencido… a mim, ao conde russo, a todos mais!…
E esta sensação descera-me tão forte, essa tarde, que num relâmpago me voou pelo cérebro a ideia rubra de o assassinar - para satisfazer a minha inveja, o meu ciúme: para me vingar dele!…
* * *
Mas voltei por fim à minha calma, e, perante o meu antigo amigo, só me restou o meu nojo, o meu tédio, e um desejo ardente de lhe escarrar na cara todo a sua indignidade, toda a sua baixeza, clamando-lhe:
- Olha que fomos amantes dela… eu e todos nós, ouves? E todos sabemos que tu já o sabes!…
* * *
À noite, antes de adormecer, veio-me ainda esta ideia perturbadora, num atordoamento luminoso:
- A sua baixeza… a sua falta de orgulho… Ah! mas se eu me engano… se eu me engano… se é Marta quem lhe conta tudo… se ele conhece tudo só porque ela lho diz… se ela tem segredos para todos, menos para ele… como eu queria… como eu a queria para mim… Nesse caso… nesse caso…
E ao mesmo tempo - arrepiadamente, desarrazoadamente - acudiu-me à lembrança a estranha confissão que Ricardo me fizera uma noite, há tantos anos… no fim de um jantar… para o Bosque de Bolonha… no Pavilhão… no Pavilhão d'Armenonville…