O Livro da Selva - Cap. 1: OS IRMÃOS DE MÁUGLI Pág. 13 / 158

- E isso que tem? Tenho sono, Bàguirà, e Xer Cane não passa de rabo comprido e palavreado... como Mao, o pavão.

- Mas não é agora ocasião de dormir. Bálu sabe-o, sei-o eu, sabe-o a alcateia, e até os estúpidos veados o sabem. Tábàqui já to disse.

- Ho! Ho! - disse Máugli. - Tábàqui dirigiu-se-me, não há muito, em termos grosseiros, a dizer-me que eu era um cachorro de homem nu e incapaz de colher amendoim, mas eu peguei-lhe pelo rabo e dei com ele duas vezes numa palmeira para o ensinar a ser educado.

- Isso foi insensato, porque, embora Tábàqui seja intriguista, ter-te-ia falado em coisas que te importavam de perto. Abre esses olhos, irmãozinho. Xer Cane não se atreve a matar-te na Selva, mas lembra-te de que Àquêlà está muito velho e não tarda o dia em que não consiga matar o gamo, e então deixará de ser o chefe. Muitos dos lobos que te examinaram quando primeiro foste apresentado no Conselho da Alcateia são velhos também, e os novos julgam, como Xer Cane lhes ensinou, que para um cachorro de homem não há lugar na alcateia. Dentro em pouco serás homem.

- E que é um homem para não poder andar com os seus irmãos? - disse Máugli. - Nasci na Selva. Tenho obedecido à Lei da Selva, e não há lobo entre os nossos a quem não tenha extraído um espinho das patas. São decerto meus irmãos!

Bàguirà estendeu-se a todo o comprimento e semicerrou os olhos.

- Irmãozinho - disse -, apalpa-me aqui debaixo do queixo. Máugli ergueu a mão morena e forte, e mesmo por baixo do queixo, onde os gigantes músculos rolantes se ocultavam sob o pêlo sedoso, descobriu um pequeno ponto pelado.

- Não há ninguém na Selva que saiba que eu, Bàguirà, tenho este sinal, a marca da coleira. E, no entanto, irmãozinho, eu nasci entre os homens, e foi no meio deles que a minha mãe morreu, nas jaulas do palácio real de Udeipore.





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