O Livro da Selva - Cap. 1: OS IRMÃOS DE MÁUGLI Pág. 15 / 158

- Desce depressa para as choupanas dos homens do vale e traz a Flor Vermelha que lá criam, para, chegada a ocasião, teres um amigo ainda mais forte do que eu, ou Bálu ou os da alcateia que te amam. Apossa-te da Flor Vermelha.

Por Flor Vermelha Bàguirà queria dizer fogo, mas nenhum animal da Selva se atreve a dar ao fogo o seu verdadeiro nome. Todas as feras têm dele receio mortal e inventam formas inúmeras para o designar.

- A Flor Vermelha? - disse Máugli. - Cresce fora das suas choupanas, no crepúsculo. Vou consegui-la.

- Nisso fala o cachorro de homem - disse Bàguirà, com orgulho. - Lembra-te de que cresce em vasos pequenos. Apanha um depressa e guarda-o até ser preciso.

- Muito bem - disse Máugli. - Vou já. Mas tens a certeza, ó Bàguirà minha - e passou-lhe o braço em roda do pescoço magnífico e mergulhou a vista naqueles grandes olhos -, tens a certeza de que tudo isso é obra de Xer Cane?

- Pelo cadeado partido que me libertou, tenho a certeza, irmãozinho.

- Então, pelo touro que me comprou, pagarei a Xer Cane capital e juros, e talvez mais ainda - disse Máugli. - E abalou num pulo.

- Aquilo é homem. Todo homem - disse Bàguirà para consigo, deitando-se de novo. - Oh, Xer Cane, nunca fizeste caçada mais negra do que aquela tua caçada à rã, faz agora dez anos!

Máugli ia já longe na floresta, a correr a toda a pressa, com o coração a arder. Chegou ao covil quando subia ao ar a névoa da tarde, respirou e estendeu a vista pelo vale. Os lobitos estavam fora, mas Mãe Loba, no fundo da caverna, viu pela maneira de respirar que a sua rã tinha coisa que a afligia.

- Que tens, filho? - perguntou.

- Gabarolices de Xer Cane - respondeu. - Amanhã caço nas terras lavradas. - E atirou-se através dos arbustos em direcção ao rio que corria no fundo do vale.





Os capítulos deste livro