- Que é isto? - disse um leão marinho asperamente, pois, em regra, os leões-do-mar não são nada comunicativos, mas muito metidos consigo.
- Scuchni! Ochen scuchni! [Sinto-me só, muito só]- disse Cótique. - Andam a matar todos os holuchiqui pelas praias.
O leão-do-mar voltou a cabeça para terra.
- Disparate! - disse. - Os teus amigos fazem tanto barulho como sempre. Deves ter visto o velho Quérique a tocar uma manada. Há trinta anos que o faz.
- É horrível- disse Cótique, recuando, quando uma vaga lhe passou por cima, e firmando-se com um golpe de parafuso das barbatanas, que o trouxe a prumo à superfície a três polegadas da ponta afiada de um rochedo.
- Bom serviço para um anejo - disse o leão-marinho, que sabia apreciar a boa natação. - Suponho que deve ser horrível do modo como vedes as coisas, mas se vós, focas, vierdes para aqui um ano após outro, os homens vêm naturalmente a sabê-lo, e, a não ser que acheis uma ilha onde nunca vão homens, sereis sempre tangidas.
- Não haverá uma ilha assim? - inquiriu Cótique.
- Já segui os poltus [halibus] durante vinte anos e não posso dizer que a tenha encontrado. Mas ouve cá, tu parece que tens gosto em falar com quem vale mais do que tu; e se fosses à ilhota da Morsa conversar com o Bruxo Marinho? Talvez ele saiba de alguma. Onde vais com tanta pressa? É um estirão de seis milhas e, se eu estivesse no teu lugar, subia a terra e dormia uma soneca primeiro, meu miúdo.
Cótique achou bom o conselho. Por isso fez um rodeio nadando para a sua praia, saiu da água e dormiu meia hora com crispações em todo o corpo, como é costume das focas. Depois partiu em direcção à ilhota da Morsa, uma pequena nesga rochosa, baixa, que fica quase a nordeste de Novastosná, toda ela saliências de pedra, com ninhos de gaivota, onde as morsas machos se reuniam à parte.