S.H.
Belo equipamento para um cidadão respeitável transportar de noite, por ruas obscuras banhadas em nevoeiro! Escondi-o o mais discretamente possível no sobretudo e dirigi-me à morada indicada. Lá estava o meu amigo, sentado a uma pequena mesa redonda junto à porta do vistoso restaurante italiano.
- Já comeu? Então faça-me companhia num café e num curaçau. Experimente um charuto da casa. São menos venenosos do que seria de esperar. Trouxe a ferramenta?
- Tenho-a aqui, debaixo do sobretudo.
- Óptimo! Deixe-me contar-lhe rapidamente o que fiz e dar-lhe algumas indicações sobre o que vamos fazer. Você já não duvida, espero, que o corpo do rapaz foi colocado no tejadilho do comboio. Tudo ficou claro quando verifiquei que tinha caído do tejadilho e não da carruagem.
-Não poderá ter sido atirado de uma ponte?
- Eu diria que é impossível. Se examinar os tejadilhos, verá que são ligeiramente arredondados e que não têm qualquer protecção. Podemos ter a certeza de que o corpo do jovem Cadogan West foi colocado no tejadilho.
- Mas como?
- Essa é a pergunta a que teremos de responder. E só há uma solução. Você sabe que o metropolitano passa a céu aberto em alguns pontos de West End. Tenho uma vaga ideia de ter visto, ao viajar nele, janelas por cima da minha cabeça. Suponha que um comboio pára debaixo de uma dessas janelas; seria assim tão difícil lançar um corpo sobre o tejadilho?
- Parece-me extremamente improvável.
- Devemos ter presente o velho axioma segundo o qual quando todas as outras contingências falham, o que resta, por muito improvável que seja, deve ser verdadeiro.