A Última Aventura de Sherlock Holmes - Cap. 8: A AVENTURA DO PÉ DO DIABO Pág. 182 / 210

Apoderou-se de mim um horror gélido. Senti o cabelo a eriçar-se, os olhos a sair das órbitas, a boca aberta, a língua como couro. A convulsão no cérebro era tal que algo ia com certeza explodir. Tentei gritar e tive a vaga consciência de um grito rouco produzido pela minha voz, mas distante e como se não fosse a minha. Logo, num esforço de fuga, rompi por entre a nuvem de desespero e vi de relance a cara de Holmes, pálida, rígida, uma máscara de horror - máscara que vira nas feições dos mortos. Foi esta a visão que me deu um instante de raciocínio e força. Saltei da cadeira, rodeei Holmes com os braços e, juntos, arrastámo-nos na direcção da porta, cambaleando. Momentos depois, lançávamo-nos para a relva, onde ficamos, jazendo lado a lado, apenas conscientes do sol glorioso abrindo caminho por entre a diabólica nuvem de terror que nos aprisionava. Lentamente abandonou as nossas almas como a névoa liberta uma paisagem, até que a paz e o juízo regressaram e nos sentámos na relva, a limpar a fronte pegajosa e a olharmo-nos, apreensivos, observando as marcas da terrível experiencia por que havíamos passado.

- Palavra de honra, Watson - disse, por fim, Holmes, em voz trémula -, devo-lhe os meus agradecimentos e as minhas desculpas. Foi uma experiência injustificável, sobretudo para um amigo. Lamento profundamente.

- Bem sabe - respondi algo emocionado, pois não conhecera antes tanto do coração de Holmes - que ajudá-lo e para mim um privilégio e o maior prazer.

Recuperou de imediato a veia meio cínica, meio irónica, a sua habitual atitude perante os que o rodeavam.

- Não valia a pena deixarmo-nos enlouquecer, meu caro Watson - disse. - Um observador desinteressado diria que já estávamos doidos antes de nos submetermos a tão temerária experiência.





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