O rosto do nosso visitante tornara-se cor de cinza enquanto Holmes falava, acusador. Permaneceu em silêncio pensativo com a cara entre as mãos. Por fim, num súbito gesto impulsivo, tirou do bolso de peito do casaco um retrato e lançou-o para cima da mesa.
- É este o motivo - disse.
O retrato mostrava o busto e o rosto de uma bela mulher. Holmes examinou-o.
- Brenda Tregennis.
- Sim, Brenda Tregennis - repetiu o nosso visitante. - Há muitos anos que a amava. Há muitos anos que era amado por ela. Eis o segredo deste isolamento na Cornualha que tanta curiosidade suscitava nas pessoas. Era a maneira de eu ficar perto da única coisa na vida que eu amava. Não podia casar, pois tenho uma esposa que me abandonou há anos e de quem, por força das lamentáveis leis inglesas, não posso divorciar-me. Brenda esperou durante anos, eu também. E foi por isto que esperámos.
Um terrível soluço abalou o seu corpo enorme. Sterndale levou a mão à garganta sob a barba matizada. Depois, com esforço, dominou-se e prosseguiu:
- O vigário sabia. Estava dentro do nosso segredo. Poderá dizer-lhe que Brenda era um anjo na terra. Por isso me telegrafou e eu vim logo. Que interesse teria para mim a bagagem já a bordo ao saber o fim do meu amor? Aqui tem a pista que lhe faltava para compreender o meu gesto, Mr. Holmes.
- Continue - disse o meu amigo.
O Dr. Sterndale tirou do bolso um embrulhinho de papel e pousou-o em cima da mesa. Tinha escrito «Radix pedis diaboli» e, por baixo, um rótulo vermelho indicador de veneno. Empurrou-o na minha direcção e disse:
- O senhor é médico. Já ouviu falar nesta substância?
- Raiz de pé do diabo! Não, nunca.
- Não estou a querer pôr à prova os seus conhecimentos profissionais, pois creio que, tirando uma amostra no laboratório de Buda, não há outra na Europa fora esta.