Von Bork sorriu com amargura.
- Vejo que não tem em grande conta a minha honestidade! - disse. - Quer o dinheiro antes de me entregar o material.
- Negócios são negócios, mister.
- Muito bem. Como quiser.
Von Bork sentou-se e preencheu um cheque que retirou do livro, mas não o entregou logo ao companheiro.
No fim de contas, visto que as nossas relações chegaram a este ponto, Mr. Altamont - disse -, não vejo por que deva confiar mais em si do que o senhor confia em mim. Compreende? - acrescentou, olhando o americano por cima do ombro. - O cheque está aqui em cima da mesa. Exijo ver o livro antes que pegue no dinheiro.
O americano passou-lho sem mais palavra. Von Bork desatou, o fio e retirou duas camadas de papel. Depois fitou, num silêncio atónito, de olhos muito abertos, o livrinho azul na sua frente. Na capa estava escrito em letras douradas Manual Prático de Apicultura. O mestre espião só por um momento pôde olhar esta inscrição estranhamente irrelevante. Foi logo agarrado pelo pescoço num aperto de ferro, a encostaram-lhe ao rosto convulso uma esponja embebida em clorofórmio.
- Outro copo, Watson! - disse Mr. Sherlock Holmes estendendo a garrafa de Imperial Tokay.
O corpulento motorista, que se sentara à mesa, empurrou o copo com alguma avidez.
- É um bom vinho, Holmes.
- Um vinho notável, Watson. O nosso amigo ali no sofá garantiu-me que provém da garrafeira escolhida de Francisco José, do Palácio de Schoenbrum. Abra, por favor, a janela, porque os vapores do clorofórmio prejudicam o paladar.