Não acha que isto explica completamente os factos?
Todo o inexplicável mistério se abria perante mim. Perguntei a mim próprio, como sempre, por que razão não vira tudo antes.
- Mas porquê o regresso de um dos criados?
- Podemos imaginar que, na confusão da fuga, algo de precioso, algo de que ele não suportaria afastar-se, ficara para trás. Isso explicaria a persistência, não lhe parece?
- Bom... e a seguir?
- A seguir temos o bilhete recebido por Garcia ao jantar. Isto significa que havia um cúmplice do outro lado. Ora, onde era esse outro lado? Já lhe expliquei que só podia ser uma casa grande e que o número de casas grandes é limitado. Dediquei os meus primeiros dias nesta aldeia a dar uns passeios, durante os quais, nos intervalos das minhas investigações botânicas, fiz o reconhecimento de todas as casas grandes e estudei a história familiar dos residentes. Uma casa, e só uma, atraiu a minha atenção. É a famosa e antiga propriedade de High Gable, que data dos tempos de Jaime I, a cerca de dois quilómetros dos limites de Oxshott e a menos de um quilómetro do local da tragédia. As outras mansões pertenciam a gente prosaica e respeitável, cuja vida era o oposto da aventura. Porém, Mr. Henderson, de High Gable, era, segundo todas as informações, um homem curioso, susceptível de atrair curiosas aventuras. Concentrei pois a minha atenção nele e nos habitantes da sua residência.
» Um singular conjunto de pessoas, Watson... sendo Mr. Henderson a mais singular de todas. Consegui visitá-lo mercê de um pretexto plausível, mas julguei ler nos seus profundos e meditativos olhos negros que ele tinha perfeita consciência dos meus propósitos. É um homem de cinquenta anos, forte, activo, de cabelo cor de chumbo e sobrancelhas negras, espessas, com o andar de um gamo e os modos de um imperador: um homem violento, autoritário, com um fundo cruel sob um rosto de pergaminho.