O meu cérebro parece um motor trabalhando a alta velocidade... e autodestruindo-se porque não é aplicado naquilo para que nasceu. A vida estiola em lugares-comuns; os Jornais são estéreis; a audácia e a fantasia parecem ter abandonado definitivamente o mundo do crime. E ainda me pergunta se estou disposto a examinar qualquer novo problema que me apareça, por muito vulgar que possa vir a demonstrar-se! Mas... ou me engano muito, ou já aí está o nosso cliente...
Ouviam-se passos medidos subindo a escada e, passando um momento, um indivíduo respeitável, alto e forte, solene, de bigodes grisalhos, era introduzido na sala. A história da sua vida estava escrita nas suas feições severas e no seu ar pomposo. Era, desde os polainitos aos óculos de aros de ouro um conservador um clérigo, um bom cidadão, ortodoxo ao extremo. Mas uma qualquer experiência invulgar perturbara a sua compostura e deixara vestígios no cabelo em desalinho, no rosto afogueado e colérico, nos modos nervosos, exuberantes. Foi logo direito ao assunto.
- Tive a experiência mais singular e desagradável que alguém pode ter, Mr. Holmes - disse. - Nunca na vida me encontrei numa situação destas. É absolutamente inaceitável... o mais ultrajante que se possa imaginar. Não abdico de uma explicação.
Soprava e inchava, de indignado.
- Sente-se, por favor, Mr. Eccles - disse Holmes em voz apaziguadora. - Posso saber, em primeiro lugar, por que veio ter comigo?
- Bem, Sir... Não me parece ser assunto que diga respeito à polícia... embora, depois de ouvir os factos, o senhor tenha de concordar que eu não podia deixar de fazer qualquer coisa. Não tenho a menor simpatia pelos detectives particulares, mas... enfim, tinha ouvido falar no seu nome.