» Você que é médico, Watson, sabe que não há parte do corpo humano que varie tanto como a orelha. Cada orelha é única, difere de todas as outras; constitui, pois, elemento distintivo. Encontrará no Anthropological. Journal do ano passado duas curtas monografias que escrevi sobre o assunto. Examinei, portanto, as orelhas da caixa com os olhos de um perito e observei, cuidadosamente as suas peculiaridades anatómicas. Imagine a minha surpresa quando, ao olhar para Miss Cushing, vi que a sua orelha se assemelhava exactamente à orelha feminina que acabava de examinar. Não podia tratar-se de coincidência. Era o mesmo lóbulo curto; a mesma curva aberta superior; a mesma convolução da cartilagem interna. No essencial, era a mesma orelha.
» Claro que vi logo a enorme importância da observação. A vítima era evidentemente familiar, de sangue e decerto muito chegada. Comecei a falar com ela acerca da família e deve lembrar-se de que Miss Cushing nos deu logo pormenores valiosíssimos.
» Em primeiro lugar, o nome da irmã, que tinha residido na mesma morada até pouco tempo atrás era Sarah. Tornou-se, pois, óbvio como ocorrera o engano e a quem era destinada a encomenda. Depois, soubemos do criado de bordo, casado com a terceira irmã, o qual chegara a entender-se tão bem com Miss Sarah que esta fora mesmo viver para Liverpool, a fim de estar perto dos Browner, e que posteriormente se tinham zangado. A disputa pusera termo a todos os contactos havia meses; daí que Browner, se quisesse enviar uma encomenda para Miss Sarah, o faria, sem dúvida, para a antiga morada dela.