A Última Aventura de Sherlock Holmes - Cap. 3: A AVENTURA DA CAIXA DE CARTÃO Pág. 58 / 210

Mas quando a minha Mary estava presente eu nunca pensava em Sarah; assim Deus me ajude como o que digo é verdade.

»Às vezes, parecia-me que gostava de estar sozinha comigo ou de insistir comigo para dar um passeio, mas nunca me passou pela cabeça o que ela tinha em mente. Até que um dia abri os olhos. Cheguei a casa depois de desembarcar e verifiquei que a minha mulher tinha saído. Sarah, não. ‘Onde está Mary?’, perguntei. ‘Oh, foi pagar umas contas.’ Impaciente, pus-me a andar de um lado para o outro, ‘Não consegues sentir-te feliz cinco minutos sem a companhia de Mary, Jim?’, perguntou ela. ‘Não és nada gentil comigo, mostrando-me assim que não aprecias a minha companhia, embora por pouco tempo.’ ‘Pronto, pronto, menina’, disse eu, estendendo-lhe a mão num gesto amável. Ela, então, segurou-a entre as suas um instante; as mãos dela ardiam como se tivesse febre. Olhei-a nos olhos e percebi tudo. Nem um nem outro precisávamos de falar. Franzi o sobrolho e retirei a mão. Ela manteve-se a meu lado em silêncio por um momento, depois estendeu a mão e deu-me uma palmada amigável no ombro. ‘O velho Jim inabalável!’, disse e, com uma gargalhada trocista, saiu a correr da sala.

»A partir dessa data, Sarah passou a odiar-me de todo o coração; e é uma mulher que sabe odiar. Fui um estúpido ao deixá-la continuar connosco - um estúpido de todo o tamanho, mas nunca disse uma palavra a Mary porque sabia que isso a magoaria. As coisas continuaram, no essencial, como dantes; porém, algum tempo passado, comecei a notar uma mudança em Mary. Ela, que sempre fora tão confiante e inocente, tornou-se estranha e desconfiada, a querer saber onde tinha eu estado e o que fizera, de quem eram as cartas que recebia, o que trazia nos bolsos, patetices assim.





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