Dia após dia se mostrava mais estranha e irritável; tinha brigas intermináveis por coisa nenhuma, eu não entendia nada. Sarah evitava-me, mas era inseparável de Mary. Percebo agora como ela manobrava e envenenava a minha mulher contra mim, mas eu, palerma, tão palerma, não vi nada na altura. Então desqualifiquei-me profissionalmente e recomecei a beber, mas penso que não o teria feito se Mary não tivesse mudado. Ela tinha algum motivo para se desgostar comigo e o fosso entre nós tornou-se progressivamente mais largo. Foi então que esse Alec Fairbairn apareceu e as coisas pioraram mil vezes.
»Foi para ver Sarah que me apareceu pela primeira vez em casa, mas não tardou a visitar-nos para nos ver. Era um homem insinuante, que fazia amigos por toda a parte, um sujeito fogoso e fanfarrão, esperto, de cabelo encaracolado, que conhecia meio mundo e sabia falar do que vira. Boa companhia, não nego, e muitíssimo educado para marinheiro; disse comigo que noutro tempo ele devia ter conhecido mais do tombadilho do que do castelo da proa. Durante um mês entrou e saiu de minha casa e nunca me passou pela cabeça que dos seus modos amáveis corteses poderia vir algum mal. Então, por fim, algo me fez desconfiar e, desde esse dia, nunca mais tive paz.
»Foi uma pequena coisa. Eu entrava na sala sem ser esperado e, ao cruzar a porta, vira um brilho de alegria no rosto de minha mulher. Mas ela, ao ver que era eu, virou-se com ar desapontado, a alegria morta. Não precisei de mais. Mary só poderia ter confundido com os meus os passos de Alec Fairbairn. Se o tivesse visto no momento, tê-lo-ia morto; não sei o que faço quando perco a cabeça. Mary viu nos meus olhos um brilho mortífero e correu para mim, segurando-me pelo braço.