Estamos em fins de Março, aproxima-se o dia do pagamento. Enganava-me: a agência agradeceu muito a minha preocupação, mas informou-me de que a renda fora paga antecipadamente. Dirigi-me então para a cidade e fui à Embaixada de Espanha. Ninguém conhecia lá o homem. Procurei Melville, em casa de quem conhecera Garcia, apenas para descobrir que ele ainda sabia menos do que eu acerca do espanhol. Enfim, quando recebi a sua resposta ao meu telegrama, vim falar-lhe, pois sei que o senhor é uma pessoa que ajuda a resolver casos difíceis. Mas aqui o senhor inspector, pelo que disse quando entrou, pode continuar a história; aconteceu uma tragédia. Posso afiançar-lhe que cada palavra de tudo o que contei corresponde à verdade e que, tirando o que relatei, não sei absolutamente mais nada acerca do destino desse homem. Só desejo ajudar a lei por todos os meios ao meu alcance.
- Não duvido, Mr. Scott Eccles... Não duvido - disse o inspector Gregson em tom muito amigável. - Devo confessar que tudo o que acaba de dizer coincide quase integralmente com aquilo que apurámos. Por exemplo, esse bilhete que chegou durante o jantar... Viu, por acaso, o que foi feito dele?
- Vi. Garcia amarrotou-o e lançou-o ao fogo.
- Que diz a isto, Mr. Baynes?
O detective de Surrey era um homem atarracado, gorducho, vermelhusco, cujo rosto se redimia da banha somente através de dois olhos extraordinariamente brilhantes que as grossas pregas da face e o sobrolho mal deixavam ver. Com um sorriso lento, tirou do bolso um pedaço de papel, descolorido e dobrado.
- Ele exagerou no gesto, Mr. Holmes. Apanhei isto intacto ao fundo do fogão.
Holmes sorriu, mostrando o seu apreço pela descoberta.
- Deve ter examinado a casa minuciosamente para descobrir um papel assim.