Mas se quisera afastar a todo o custo o obstáculo, não significava isso que ele, Mason, carecera de peso, isto é, que não era o homem capaz de proporcionar-lhe a paz de alma e a satisfação interior?
Ele era demasiado severo e demasiado razoável para aquele temperamento alegre de asas inquietas. Ele era um homem do Norte e ela uma mulher do Sul, ao que se havia acrescentado fortemente a lei dos contrastes, mas só de um modo passageiro. Claro que ele devia tê-lo previsto; devia tê-lo compreendido. Sentiu que o seu coração se compadecia dela como se teria compadecido de uma menina que se encontrasse numa situação dolorosa e irremediável.
Passou um bom bocado a percorrer a sala sem dizer palavra, com os lábios apertados, com os punhos cerrados até cravar as unhas na carne. De súbito, num impulso brusco, sentou-se ao lado de Lucille e apertou entre as suas as mãos frias e inertes da jovem. Um pensamento abriu caminho no seu cérebro: "O que faço é um acto de cavalheirismo ou de cobardia?". Esta pergunta ecoou-lhe aos ouvidos, tomou a forma de letras diante dos seus olhos e quase lhe pareceu que assumia contornos exteriores e materiais de modo que toda a gente podia ler essas letras.
A luta interna fora terrível, mas conseguira dominar-se e disse:
- Querida, és tu mesma quem vai escolher entre nós. Se estás verdadeiramente segura, bem segura, compreendes?, de que Campbell é capaz de fazer-te feliz como marido, eu não serei um obstáculo.
- Divorciavas-te?
A mão de Mason apertou o frasco do veneno, e retorquiu:
- Chama-lhe divórcio, se é o que te parece.
Os olhos daquela mulher, fixos em Mason, foram-se iluminando com um estranho esplendor. Não reparara nunca na existência daquele homem dentro de Mason. Desaparecera o norte-americano rude e materialista.