Tomou o lábio ferido com uma pinça e, com duas incisões rápidas, retirou um largo pedaço em forma de V.
A mulher sentou-se na cama soltando um grito terrível. O véu que lhe cobria o rosto foi arrancado.
Era um rosto seu conhecido.
Apesar daquele lábio superior que fazia uma saliência, daquela baba sangrenta, era um rosto seu conhecido.
Ela continuou a levar a mão à chaga e a soltar gritos. Douglas Stone sentou-se aos pés da cama com o bisturi e a pinça.
O quarto girava à sua volta.
Sentira atrás da orelha algo como uma costura a ser rasgada.
Um espectador teria dito que o seu rosto era o mais lívido dos dois.
Como num sonho, ou como se houvesse assistido a um espectáculo, tinha consciência de que os cabelos e a barba do turco se achavam depositados em cima da mesa, e de que lorde Sannox estava encostado à parede, as mãos na ancas, a rir silenciosamente.
Os gritos tinham agora cessado, e a horrível cabeça voltara a cair na almofada; mas Douglas Stone permanecia sentado, imóvel, e lorde Sannox ria-se tranquilamente para si próprio.
- Esta operação era realmente muito necessária para Marion - disse ele -, não fisicamente, mas moralmente, o senhor entende... moralmente.
Douglas Stone inclinou-se para diante e pôs-se a brincar com as franjas da colcha.
O bisturi caiu no chão com um ruído sonoro, mas ele continuava a segurar a pinça e mais alguma coisa.
- Há muito tempo que eu tencionava aplicar um pequeno exemplo - disse lorde Sannox em voz baixa. O seu bilhete de quarta-feira perdeu-se e tenho-o aqui, na minha carteira. Senti alguma dificuldade em realizar a minha ideia. O ferimento, diga-se de passagem, não era mais perigoso do que o meu anel com sinete...
Encarou fixamente o seu silencioso companheiro e armou o pequeno revólver que tinha na algibeira da casaca.