- Em primeiro lugar - perguntei eu -, importas-te de dizer-me se reuniste casos em que o magnetizador havia adquirido um poder sobre o paciente e se servira dele com um fim culposo?
- Dúzias! - exclamou com arrebatamento. - Crime por sugestão.
- Não falo de sugestão. Aludo ao que se passa quando um impulso súbito vem de uma pessoa afastada... um impulso irresistível.
- Obsessão! - bradou numa crise de arrebatamento. - É o fenómeno mais raro. Temos oito casos, cinco dos quais bem definidos. Não estás a querer dizer-me...
A sua exaltação era tal que mal conseguia articular as palavras.
- Não, não quero dizer - respondi. - Boa noite, vais desculpar-me mas não me sinto muito bem esta noite.
Acabei assim por me desembaraçar dele. Partiu bradindo o lápis e o bloco de notas.
Pode ser que eu sinta dificuldade para suportar os meus problemas, mas pelo menos mais vale que os guarde para mim, em vez de exibi-los a Wilson como um fenómeno de feira.
Ele perdeu de vista tudo quanto respeita aos seres humanos. Para si tudo se reduz a casos, a fenómenos.
Preferirei morrer a voltar a falar-lhe neste assunto.
12 de Abril. O dia de ontem foi um dia abençoado de tranquilidade e passei um serão sem incidentes.
A presença de Wilson é um grande consolo. Que pode fazer doravante esta mulher?
Seguramente, agora que me ouviu dizer o que disse, deve sentir por mim a antipatia que eu sinto por ela.
Não, não pode, não pode desejar ter por amante quem a insultou assim.
Não, creio que estou livre do seu amor... Mas que esperar do seu ódio?
Não poderia servir-se do seu poder para se vingar?
Bah! De que serve assustar-me com estes fantasmas? Há-de esquecer-me, eu esquecê-la-ei e tudo decorrerá bem.