- E os fulanos nas minas de carvão - disse Summerlee, com um soluço abafado. - Se por acaso os geólogos voltassem a viver na terra teriam algumas teorias estranhas sobre a existência do homem em estratos carboníferos.
- Eu não finjo ter conhecimentos dessas coisas - comentou lorde John -, mas parece-me que, depois disto, a terra vai ficar «Para arrendar, vazia». Depois de a nossa tribo humana ser varrida da superfície da terra, como poderá voltar para ela?
- O mundo estava vazio antes - respondeu Challenger, muito sério. - Graças a leis cujo início nos ultrapassa, ficou povoada. Por que não poderá o mesmo processo acontecer de novo?
- Meu caro Challenger, não pode estar a falar a sério?
- Professor Summerlee, eu não tenho o hábito de dizer coisas que não pretendo dizer. A observação é trivial. - A barba subiu e as pálpebras desceram.
- Bem, foi um dogmático obstinado durante toda a sua vida, e pretende morrer assim - disse Summerlee num tom azedo.
- E o senhor viveu sempre como um obstrucionista sem imaginação, e agora nunca poderá ter a esperança de evoluir.
- Os seus piores críticos nunca o acusarão de falta de imaginação - retorquiu Summerlee.
- Francamente! - disse Lorde John. - É mesmo típico dos dois usarem o vosso último fôlego de oxigénio para se ofenderem mutuamente. Que pode importar que os homens voltem ou não? Seguramente, não será no nosso tempo.
- Com esse comentário, meu caro, trai as suas acentuadas limitações - disse Challenger, severamente. - A verdadeira mente científica não se deixa dominar pelas suas condições de tempo e espaço. Transforma-se num observatório erigido na fronteira do presente, que separa o passado infinito do futuro infinito. Deste posto seguro, faz as suas investidas até ao princípio e ao fim de todas as coisas. Quanto à morte, a mente científica morre no seu posto a trabalhar de uma forma normal e metódica até ao fim. Ignora tão completamente uma coisa tão mesquinha como a sua própria dissolução física como ignora todas as outras limitações no plano da matéria. Estou certo, professor Summerlee?
Summerlee resmungou uma aceitação contrariada.
- Com certas reservas, concordo - admitiu.
- A mente científica ideal... - continuou Challenger, - Falo na terceira pessoa para não parecer muito auto complacente... a mente científica ideal devia ser capaz de considerar cuidadosamente um ponto de conhecimento abstracto no intervalo que se estende entre o momento em que o seu possuidor cai de um balão e o momento em que chega à terra. São precisos homens desta fibra forte para formar os conquistadores da Natureza e os guarda-costas da verdade.