Como toda a humanidade, saíam da obscuridade para a luz e novamente voltavam à obscuridade. Não sou facilmente impressionável, mas a atmosfera carregada daquela pesada noite, acrescida do estranho caso em que estávamos' envolvidos, punha-me nervoso e deprimido. Podia ver pelo seu ar que a Menina Morstan experimentava o mesmo sentimento. Apenas Holmes conseguia elevar-se acima destas influências triviais. Segurava o bloco de notas aberto sobre o joelho e, de tempos a tempos, escrevia números e apontamentos à luz da sua lanterna de bolso.
No Lyceum Theatre a multidão adensava-se junto às entradas laterais. Em frente, um cortejo de cabriolés e carruagens de quatro rodas avançava ruidosamente, ao mesmo tempo que iam descendo homens com peitilhos de camisa e mulheres com xailes e diamantes. Ainda não atingíramos o terceiro pilar, que era o nosso ponto de encontro, quando um homem baixo, moreno e enérgico, com vestes de cocheiro, nos abordou.
- São os acompanhantes da Menina Morstan? - inquiriu.
- Sou a Menina Morstan e estes dois cavalheiros são meus amigos - disse ela.
O homem lançou-nos um olhar extremamente penetrante e inquiridor.
- Vai-me desculpar - disse, com ar algo obstinado, mas queria pedir-lhe que me desse a sua palavra em como nenhum dos seus companheiros é da polícia.
- Dou-lhe a minha palavra - respondeu ela.
Ele assobiou estridentemente, um rapaz avançou com uma carruagem e abriu a porta. O homem que nos abordara subiu para o assento do cocheiro e nós ocupámos os lugares no interior. Imediatamente o condutor chicoteou o cavalo e partimos num andamento furioso através das ruas enevoadas.