O Crime do Padre Amaro - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 105 / 478

- Vai-se a gente sujar toda, disse Amélia. Deixar lá a D. Maria, hem? Vamos nós ver a quinta... Por aqui, senhor pároco...

Estavam defronte dum velho muro onde cresciam clematites. Amélia abriu uma porta verde; e por três degraus de pedra desconjuntados desceram a uma rua toldada por uma larga parreira. Junto do muro cresciam rosas de todo o ano; do outro lado, por entre os pilares de pedra que sustentavam a latada e os pés torcidos das cepas, via-se, batido de luz, com tons amarelados, um grande campo de erva; os tetos baixos do curral coberto de colmo destacavam ao longe em escuro, e desse lado um fumozinho leve e branco perdia-se no ar muito azul.

Amélia a cada momento parava, explicava a quinta. - Ali ia semear- se cevada; além havia de ver o cebolinho, estava muito bonito...

- Ah! a D. Maria da Assunção traz isto muito bem tratado!

Amaro ouvia-a falar, com a cabeça baixa, olhando-a de lado; a sua voz naquele silêncio dos campos parecia-lhe mais rica, mais doce; o grande ar dava-lhe uma cor mais picante às faces; o seu olhar rebrilhava. Para saltar umas lamas tinha apanhado o vestido; e a brancura da meia, que ele entreviu, perturbou-o como um começo da sua nudez.

Ao fundo da parreira atravessaram um campo ao comprido dum regueiro. Amélia riu muito do pároco, que tinha medo dos sapos. Ele então exagerou os seus sustos. Ó menina Amélia, haveria víboras? Ele roçava-se por ela, afastando-se das ervas altas.

- Vê aquele valado? Pois para o lado de lá é a nossa fazenda. Entra- se pela cancela, vê? Mas veja lá se está cansado! Que o senhor parece-me que não é grande caminhador... Ai, um sapo!

Amaro deu um pulinho, tocou-lhe o ombro. Ela empurrou-o docemente, e com um riso cálido:

- Seu medroso! seu medroso!





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