O Crime do Padre Amaro - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 145 / 478

Depois, deixando por um momento de contemplar o doutor Godinho, Agostinho dirigia-se diretamente a Roma: - "É no século XIX que vindes atirar à face de 1,eiria liberal os ditames do Syllabus? Pois bem. Quereis a guerra? Tê-la-eis!"

- Hem, João?! dizia. Está forte! Está filosófico!

E retomando a leitura: - "Quereis a guerra? Tê-la-eis! Levantaremos bem alto o nosso estandarte, que não é o da demagogia, compreendei-o bem! e arvorando-o, com braço firme, no mais alto baluarte das liberdades públicas, gritaremos à face de Leiria, à face da Europa: Filhos do século XIX! às armas! às armas, pelo progresso!"

- Hem? Está de os enterrar!

João Eduardo, que ficara um momento calado, disse então, levantando as suas expressões em harmonia com a prosa sonora do Agostinho:

- O clero quer-nos arrastar aos funestos tempos do obscurantismo!

Uma frase tão literária surpreendeu o jornalista: fitou João Eduardo, disse:

- Por que não escreves tu alguma coisa, também?

O escrevente respondeu, sorrindo:

- E eu, Agostinho, eu é que te escrevia uma desanda aos padres... E eu tocava-lhes os podres. Eu é que os conheço!...

Agostinho instou logo com ele para que escrevesse a desanda.

- Vem a calhar, menino!

O doutor Godinho ainda na véspera lhe recomendara: - "Em tudo que cheirar a padre, para baixo! Havendo escândalo, conta-se! não havendo, inventa-se!"

E Agostinho acrescentou, com benevolência:

- E não te dê cuidado o estilo, que eu cá o florearei!

- Veremos, veremos, murmurou João Eduardo.

Mas daí por diante Agostinho perguntava-lhe sempre:

- E o artigo, homem? Traz-me o artigo.

Tinha avidez dele, porque sabendo como João Eduardo vivia na intimidade da "panelinha canônica da S. Joaneira", supunha-o no segredo de infâmias especiais.





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