O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 106 / 414

Mas bem depressa aquele cismar começou a quebrar-se a cada momento como uma tela que se esgaça em rasgões largos, e por trás aparecia logo como uma intensidade luminosa e forte a idéia do primo Basílio.

As viagens, os mares atravessados tinham-no tornado mais trigueiro; a melancolia da separação dera-lhe cabelos brancos. Tinha sofrido por ela! - E no fim onde estava o mal? Ele jurara-lhe que aquele amor era casto, passando-se todo na alma. Tinha vindo de Paris, o pobre rapaz, assim lho jurara, a ver, uma semana, quinze dias. E havia de dizer-lhe: "Não voltes; vai-te"?

Quando a senhora quiser o chá... - disse da porta do quarto Juliana.

Luísa deu um suspiro alto como acordando. Não; que trouxesse a lamparina, mais tarde.

Eram dez horas. Juliana foi tomar o seu chá à cozinha. O lume ia-se apagando, o candeeiro de petróleo estendia nos cobres dos tachos reflexos avermelhados.

- Hoje houve coisa, Sra. Joana - disse Juliana sentando-se. - Está toda no ar! E é cada suspiro! Ali houve-a e grossa.

Joana, do outro lado, com os cotovelos na mesa e a face sobre os punhos, pestanejava de sono.

- A Sra. Juliana, também, deita tudo para o mal - disse.

- É que era necessário ser tola, Sra. Joana!

Calou-se, cheirou o açúcar; era um dos seus despeitos; gostava dele bem refinado - e aquele açúcar mascavado e grosso, que punha no chá um gosto de formigas, exasperava-a.

- Este é pior que o do mês passado! Para uma pobre de Cristo tudo é bom! - rosnou muito amargamente.

E depois de uma pausa repetiu:

- É que era necessário ser tola, Sra. Joana!

A cozinheira disse preguiçosamente:

- Cada um sabe de si...

- E Deus de todos - suspirou Juliana.

E ficaram caladas.

Luísa tocou a campainha embaixo.





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