O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 110 / 414

postou-se logo à porta, de boné carregado, as mãos enterradas no bolso, com olhares de revés; a carvoeira defronte, imunda, disforme de obesidade e de prenhez, veio embasbacar com um pasmo lorpa na face oleosa; a criada do doutor abriu precipitadamente a vidraça. Então o Paula atravessou rapidamente a rua faiscante de sol, entrou no estanque; daí a um momento apareceu à porta, com a estanqueira, de carão viúvo; e cochichavam, cravavam olhares pérfidos nas varandas de Luísa, no cupê! O Paula, dali, arrastando as chinelas de tapete, foi segredar com a carvoeira; provocou-lhe uma risada que lhe sacudia a massa do seio; e foi enfim estacar à sua porta entre um retrato de D. João VI e duas velhas cadeiras de couro, assobiando com júbilo. No silêncio da rua ouvia-se num piano, a compasso de estudo, a Oração de uma virgem.

Sebastião ao passar olhou maquinalmente para as janelas de Luísa.

- Rico calor, Sr. Sebastião! - observou o Paula curvando-se. - E um regalo estar à fresca!

Luísa e Basílio estavam muito tranquilos, muito felizes na sala, com as portadas meio cerradas, numa penumbra doce. Luísa tinha aparecido de roupão branco, muito fresca, com um bom cheiro de água de alfazema.

- Eu venho assim mesmo - disse ela. - Não faço cerimônias.

Mas assim é que ela estava linda! Assim é que a queria sempre! - exclamou Basílio muito contente, como se aquele roupão de manhã fosse já uma promessa da sua nudez.

Vinha muito tranquilo, afetava um tom de parente. Não a inquietou com palavras veementes, nem com gestos desejosos; falou-lhe do calor, de uma zarzuela que vira na véspera, de velhos amigos que encontrara, e disse-lhe apenas que tinha sonhado com ela.

O quê? Que estavam longe, numa terra distante, que devia ser





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