O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 111 / 414

a Itália, tantas as estátuas que havia nas praças, tantas as fontes sonoras que cantavam nas bacias de mármore; era num jardim antigo, sobre um terraço clássico; flores raras transbordavam de vasos florentinos; pousando sobre as balaustradas esculpidas, pavões abriam as caudas; e ela arrastava devagar sobre as lajes quadradas a cauda longa do seu vestido de veludo azul. De resto, dizia, era um terraço como de São Donato, a vila do Príncipe Demidoff - porque lembrava sempre as suas intimidades ilustres, e não se descuidava de fazer reluzir a glória das suas viagens.

E ela, tinha sonhado?

Luísa corou. - Não, tinha tido muito medo da trovoada. Tinha ouvido a trovoada, ele?

- Estava a cear no Grêmio, quando trovejou.

- Costumas cear?

Ele teve um sorriso infeliz. - Cear! Se se podia chamar cear ir ao Grêmio rilhar um bife córneo e tragar um Colares peçonhento!

E fitando-a:

- Por tua causa, ingrata!

- Por sua causa?

- Por quem, então? Por que vim eu a Lisboa? Por que deixei Paris?

- Por causa dos teus negócios...

Ele encarou-a severamente:

- Obrigado - disse, curvando-se até ao chão.

E a grandes passadas pela sala soprava violentamente o fumo do seu charuto.

Veio sentar-se bruscamente ao pé dela. - Não, realmente era injusta. Se em Lisboa, era por ela. Só por ela!

Fez uma voz meiga; perguntou-lhe se lhe tinha realmente um bocadinho de amor muito pequenino, assim... - Mostrava o comprimento da unha.

Riram.

- Assim, talvez.

E o peito de Luísa arfava.

Ele então examinou-lhe as unhas; admirou-lhas e aconselhou-lhe o verniz que usam as cocotes, que lhes dá um lustre polido; ia-se apossando da sua mão, pôs-lhe um beijo na ponta dos dedos; chupou o dedo mínimo, jurou que era muito doce; arranjou-lhe com um contato muito tímido uns fios de cabelos que se tinham soltado - e, disse, tinha um pedido a fazer-lhe!

Olhava-a com uma suplicação.





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