a Itália, tantas as estátuas que havia nas praças, tantas as fontes sonoras que cantavam nas bacias de mármore; era num jardim antigo, sobre um terraço clássico; flores raras transbordavam de vasos florentinos; pousando sobre as balaustradas esculpidas, pavões abriam as caudas; e ela arrastava devagar sobre as lajes quadradas a cauda longa do seu vestido de veludo azul. De resto, dizia, era um terraço como de São Donato, a vila do Príncipe Demidoff - porque lembrava sempre as suas intimidades ilustres, e não se descuidava de fazer reluzir a glória das suas viagens.
E ela, tinha sonhado?
Luísa corou. - Não, tinha tido muito medo da trovoada. Tinha ouvido a trovoada, ele?
- Estava a cear no Grêmio, quando trovejou.
- Costumas cear?
Ele teve um sorriso infeliz. - Cear! Se se podia chamar cear ir ao Grêmio rilhar um bife córneo e tragar um Colares peçonhento!
E fitando-a:
- Por tua causa, ingrata!
- Por sua causa?
- Por quem, então? Por que vim eu a Lisboa? Por que deixei Paris?
- Por causa dos teus negócios...
Ele encarou-a severamente:
- Obrigado - disse, curvando-se até ao chão.
E a grandes passadas pela sala soprava violentamente o fumo do seu charuto.
Veio sentar-se bruscamente ao pé dela. - Não, realmente era injusta. Se em Lisboa, era por ela. Só por ela!
Fez uma voz meiga; perguntou-lhe se lhe tinha realmente um bocadinho de amor muito pequenino, assim... - Mostrava o comprimento da unha.
Riram.
- Assim, talvez.
E o peito de Luísa arfava.
Ele então examinou-lhe as unhas; admirou-lhas e aconselhou-lhe o verniz que usam as cocotes, que lhes dá um lustre polido; ia-se apossando da sua mão, pôs-lhe um beijo na ponta dos dedos; chupou o dedo mínimo, jurou que era muito doce; arranjou-lhe com um contato muito tímido uns fios de cabelos que se tinham soltado - e, disse, tinha um pedido a fazer-lhe!
Olhava-a com uma suplicação.