O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 112 / 414

- Que é?

- É que venhas comigo ao campo. Deve estar lindo no campo!

Ela não respondeu; dava pancadinhas leves nas pregas moles do roupão.

- É muito simples - acrescentou ele. - Tu vais-me encontrar a qualquer parte, longe daqui, está claro. Eu estou à espera de ti com uma carruagem, tu saltas para dentro e fouette, cocher!

Luísa hesitava.

- Não digas que não.

- Mas onde?

- Onde tu quiseres. A Paço de Arcos, a Loures, a Queluz. Dize que sim.

A sua voz era muito urgente; quase ajoelhara.

- Que tem? É um passeio de amigos, de irmãos.

- Não! Isso não!

Basílio zangou-se, chamou-lhe beata. Quis sair. Ela veio tirar-lhe o chapéu da mão, muito meiga, quase vencida.

- Talvez, veremos - dizia.

- Dize que sim! - insistia. - Sê boa rapariga!

- Pois sim, amanhã veremos; amanhã falaremos.

Mas no dia seguinte, muito habilmente, Basílio não falou no passeio, nem no campo. Não falou também do seu amor, nem dos seus desejos. Parecia muito alegre, muito superficial; tinha-lhe trazido o romance de Belot, À Mulher de Fogo. E sentando-se ao piano, disse-lhe canções de café-concerto, muito picantes; imitava a rouquidão acre e canalha das cantoras; fê-la rir.

Depois falou muito de Paris; contou-lhe a moderna crônica amorosa, anedotas, paixões chiques. Tudo se passava com duquesas, princesas, de um modo dramático e sensibilizador, às vezes jovial, sempre cheio de delícias. E, de todas as mulheres de que falava, dizia recostando-se: era uma mulher distintíssima; tinha naturalmente o seu amante...

O adultério aparecia assim um dever aristocrático. De resto a virtude parecia ser, pelo que ele contava, o defeito de um espírito pequeno, ou a ocupação reles de um temperamento burguês...

E quando saiu, disse, como recordando-se:

- Sabes que estou com minhas idéias de partir?.





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