- Então você ainda não arrumou o quarto! - gritou Luísa.
Juliana estremeceu àquela cólera inesperada.
- Estava agora, minha senhora!
- Que estava agora vejo eu! - rompeu Luísa. - São três horas da tarde e ainda o quarto neste estado!
Tinha atirado o chapéu, a sombrinha.
- Como a senhora costuma vir sempre mais tarde... - disse Juliana. E seus beiços faziam-se brancos.
- Que lhe importa a que horas eu venho? Que tem você com isso? A sua obrigação é arrumar logo que eu me levante. E não querendo, rua, fazem-se-lhe as contas!
Juliana fez-se escarlate e cravando em Luísa os olhos injetados:
- Olhe, sabe que mais? Não estou para a aturar! E arremessou violentamente a vassoura.
- Saia! - berrou Luísa. - Saia imediatamente! Nem mais um momento em casa!
Juliana pôs-se diante dela, e com palmadas convulsivas no peito a voz rouca:
- Hei de sair se eu quiser! Se eu quiser!
- Joana! - bradou Luísa.
Queria chamar a cozinheira, um homem, um policia, alguém! Mas Juliana descomposta, com o punho no ar, toda a tremer:
- A senhora não me faça sair de mim! A senhora não me faça perder a cabeça! - E com a voz estrangulada através dos dentes cerrados: - Olhe que nem todos os papéis foram pra o lixo!
Luísa recuou, gritou:
- Que diz você?
- Que as cartas que a senhora escreve aos seus amantes, tenho-as eu aqui! E bateu na algibeira, ferozmente.
Luísa fitou-a um momento com os olhos desvairados e caiu no chão, junto à causeuse, desmaiada.