.. A figura do Conselheiro afastava-se direita, digna, para os lados das secretarias.
Chamou um trem.
- A quanto puder! - exclamou.
A carruagem entrou quase a galope na ruazinha do Paraíso. Figuras pasmadas apareceram à janela. Subiu, palpitante. A porta estava fechada - e logo a cancela do lado abriu-se, e a voz doce da patroa segredou:
- Já saiu. Há de haver meia hora.
Desceu. Deu a sua morada ao cocheiro, e atirando-se para o fundo do cupê, rompeu num choro histórico. Correu os estores para se esconder; arrancou o véu, rasgou uma luva, sentindo em si violências inesperadas. Então veio-lhe um desejo frenético de ver Basílio! Bateu nos vidros desesperadamente, gritou:
- Ao Hotel Central!
Porque estava num daqueles momentos em que os temperamentos sensíveis têm impulsos indomáveis; há uma delícia colérica em espedaçar os deveres e as conveniências; e a alma procura sofregamente o mal com estremecimentos de sensualidade!
A parelha estacou, resvalando à porta do hotel. O Sr. Basílio de Brito não estava, o senhor Visconde Reinaldo, sim.
- Bem, para casa, para onde eu disse!
O cocheiro bateu. E Luísa, sacudida por uma irritabilidade febril, insultava o Conselheiro, o estafermo, o imbecil! Maldizia a vida que lhos fizera conhecer, a ele e a todos os amigos da casa! Vinha-lhe uma vontade acre de mandar o casamento ao diabo, de fazer o que lhe viesse à cabeça!...
À porta não tinha troco para o cocheiro. - Espere! - disse, subindo furiosa. - Eu lhe mandarei pagar!
"Que bicha!, pensou o cocheiro.
Foi Joana que veio abrir; e quase recuou, vendo-a tão vermelha, tão excitada.
Luísa foi direita ao quarto: o cuco cantava três horas. Estava tudo desarrumado; vasos de plantas no chão, o toucador coberto com um lençol velho, roupa suja pelas cadeiras.