O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 243 / 414

E descoberta, mal se distinguindo da alvura da roupa, adormeceu, quando a madrugada rompia.

Acordou tarde, sucumbida. Mas logo na sala de jantar a beleza da manhã gloriosa reanimou-a. O sol entrava abundante e radioso pela janela aberta; os canários faziam um concerto; da forja ao pé saía um martelar jovial; e o largo azul vigoroso levantava as almas. - Aquela alegria das coisas deu-lhe como uma coragem inesperada. Não se havia de abandonar a uma desesperança inerte... Que diabo! Devia lutar!

Vieram-lhe esperanças, então. Sebastião era bom; Leopoldina tinha expedientes; havia outras possibilidades, o acaso mesmo; e tudo isto podia, em definitivo, formar seiscentos mil réis, salvá-la! Juliana desapareceria, Jorge voltaria! - E, alvoroçada, via perspectivas de felicidades possíveis reluzirem, no futuro, deliciosamente.

Ao meio-dia veio o criadito de Sebastião; o senhor tinha chegado de Almada; desejava saber como a senhora estava.

Correu ela mesma à porta; que pedia ao Sr. Sebastião, que viesse logo que pudesse!

Acabou-se! Sentia-se resoluta, ia falar a Sebastião... No fim era o que lhe restava: contar ela tudo a Sebastião, ou que a outra contasse tudo a seu marido. Impossível hesitar! E depois podia atenuar, dizer que fora só uma correspondência platônica... A partida de Basílio, além disso, fazia daquele erro um fato passado, quase antigo... E Sebastião era tão amigo dela!

Veio; era uma hora. Luísa que estava no quarto sentiu-o entrar, e só o som dos seus passos grossos no tapete da sala deu-lhe uma timidez, quase um terror. Parecia-lhe agora muito difícil, terrível de dizer... Preparara frases, explicações, uma história de galanteio, de cartas trocadas; e estava com a mão no fecho da porta, a tremer. Tinha medo dele! Ouvia-o passear pela sala; e receando que a impaciência lhe desse mau humor, entrou.





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