O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 242 / 414

Erguia-se, saltava para as agarrar, mas as libras começavam a rolar, a rolar como infinitas rodinhas sobre um chão liso, e as notas desapareciam voando muito leves com um frêmito de asas irônicas. Ou então era alguém que entrava na sala, curvava-se respeitosamente, e começava a tirar do chapéu, a deixar-lhe cair no regaço libras, moedas de cinco mil réis, peças, muitas, profusamente; não conhecia o homem; tinha um chinó vermelho e uma pêra impudente. Seria o diabo? Que lhe importava? Estava rica, estava salva! Punha-se a chamar, a gritar por Juliana, a correr atrás dela, por um corredor que não findava, e que começava a estreitar-se, a estreitar-se, até que era como uma fenda por onde ela se arrastava de esguelha, respirando mal, e apertando sempre contra si o montão de libras que lhe punha frialdades de metal sobre a pele nua do peito. Acordava assustada; e o contraste da sua miséria real com aquelas riquezas do sonho, era como um acréscimo de amargura. Quem lhe poderia valer? - Sebastião! Sebastião era rico, era bom. Mas mandá-lo chamar, e dizer-lhe ela, ela Luísa, mulher de Jorge: - "Empreste-me seiscentos mil réis". - Para quê, minha senhora?" E podia lá responder: "Para resgatar umas cartas que escrevi ao meu amante". Era lá possível! Não, estava perdida. Restava-lhe ir para um convento.

A cada momento voltava o travesseirinho que lhe escaldava o rosto; atirou a touca, os seus longos cabelos soltaram-se; prendeu-os ao acaso com um gancho; e de costas, com a cabeça sobre os braços nus, pensava amargamente no romance de todo aquele verão - a chegada de Basílio, o passeio ao Campo Grande, a primeira visita ao Paraíso...

Onde iria ele, aquele infame? Dormindo tranquilamente nas almofadas do vagão!

E ela ali, na agonia!

Atirou o lençol; abafava.





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