O Primo Basílio - Cap. 10: CAPÍTULO X Pág. 274 / 414

- E é verdade - perguntou Jorge de repente - teu primo? Viste-lo? Veio ver-te?

O prato escorregou, houve um tlintlim de copos.

- Sim, veio - disse Luísa, depois de um silêncio - esteve aí umas vezes. Demorou-se pouco...

Abaixou-se, abriu o gavetão do guarda-louça, esteve a remexer nas colheres de prata; ergueu-se enfim, voltou-se com um sorriso, vermelha, sacudindo as mãos:

- Pronto!

E foi sentar-se nos joelhos de Jorge.

- Como te fica bem! - dizia, torcendo-lhe o bigode. Admirava-o, de um modo ardente. Quando se atirara aos seus braços naquela madrugada, sentira como abrir-se-lhe o coração, e um amor repentino revolver-lho deliciosamente; viera-lhe um desejo de o adorar perpetuamente, de o servir, de o apertar nos braços até lhe fazer mal, de lhe obedecer com humildade; era uma sensação múltipla, de uma doçura infinita, que a traspassara até às profundidades do seu ser. E passando-lhe um braço pelo pescoço, murmurava com um movimento de uma adulação quase lasciva:

- Estás contente? Sentes-te bom? Dize!

Nunca lhe parecera tão bonito, tão bom; a sua pessoa depois daquela separação dava-lhe as admirações, os enlevos de uma paixão nova.

- É o Sr. Sebastião - veio dizer Juliana toda risonha para Jorge.

Jorge deu um pulo, afastou Luísa bruscamente, atirou-se pelo corredor gritando:

- Aos meus braços! Aos meus braços, celerado!

Daí a dias, uma manhã que Jorge saíra para o ministério, Juliana entrou no quarto de Luísa, e fechando a porta devagarinho, com uma voz muito amável:

- Eu desejava falar à senhora numa coisa.

E começou a dizer - que o seu quarto em cima no sótão era pior que uma enxovia; que não podia lá continuar; o calor, o mau cheiro, os percevejos, a falta de ar, e no inverno a umidade, matavam-na! Enfim, desejava mudar para baixo, quarto dos baús.





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